É possível lidar com o problema das famílias em vulnerabilidade social, que é real e muito sério, e ainda assim manter as escolas fechadas para preservar a vida de todos
O lockdown realmente funcionou em Araraquara. Derrubou os números de forma contundente. Mas, calma lá! Nós ainda não controlamos a pandemia na cidade.
Ainda temos média superior a 50 casos novos de Covid-19 por dia. A doença está matando um em cada 50 contaminados. Então, teremos, em média, uma morte por dia na cidade causada por esta doença.
Isso, por acaso, é aceitável?
Mesmo que seja uma vítima só, pergunto: Quem? Quem você acha que pode morrer para que as escolas abram e acolham as crianças vulneráveis? Que tal se a próxima vítima for você, sua mãe ou seu filho?
Se você soubesse que na sua unidade alguém vai morrer este mês, você iria trabalhar mesmo assim?
Conduzir a pandemia com base no percentual de positivados e fechar se der mais de 30% é normalizar e compactuar com a morte. Ninguém é um número, somos pessoas. Quem morre não é mais um ou mais dois CPFs, é a Maria, o Pedro, o João, gente que tem pai, mãe, que tem filhos, amores, tem quem dependa deles para viver.
Nenhuma morte é aceitável! Nenhuma! A covid-19 não tem cura nem tratamento e a morte é inevitável para um em cada 50 doentes. Então, não dá para ficar brincando de roleta russa para ver se dá sorte e, “se Deus quiser”, quem morre é o outro.
Não podemos aceitar que todo dia morra alguém da cidade para que o comércio, as escolas, os templos ou os salões de beleza funcionem. Repito a pergunta: quem pode morrer para que você possa ir trabalhar presencialmente?
“Ah, mas as pessoas estão passando fome.” Pois é. Isso é terrível. Não pode acontecer. Mas, um bom auxílio emergencial conteria este problema. E dinheiro tem. Você sabia que o Brasil só gasta metade do que arrecada no ano inteiro? Sim, a outra metade o governo usa para pagar uma dívida que ninguém sabe direito qual é. Sim, metade de tudo que o País arrecada, vai para pagar dívida com alguém que ninguém sabe direito quem é. Enquanto a fome cresce no País, os ricos ficam mais ricos. Não venha me pedir para os servidores morrerem pelo comércio, enquanto alguns poucos indivíduos enriquecem às nossas custas e ainda querem passar na frente na fila da vacina!
“Ah, mas o prefeito não manda no governo federal.” É verdade. Só que, em Araraquara, a Prefeitura fez dívida de R$ 53 milhões com a Caixa para a “modernização da iluminação pública”. Com esse valor, daria para pagar auxílio de R$ 600 para 7 mil famílias por um ano inteiro e ainda sobrava para comprar pacote de dados para os alunos poderem fazer aulas on line. Sabemos que esse dinheiro, especificamente esse das lâmpadas, não pode ter destinação alterada, mas porque não fazer R$ 50 milhões em dívidas novas para pagar o auxílio para quem precisa, sem ter que mandar servidor para morte?
Em resumo, ainda estamos em pandemia porque os governantes não querem ajudar o povo, querem é salvar as empresas e os seus mandatos, mesmo que o povo morra. Se quisessem nos salvar, já tinham feito.
Agora, o interesse deles é com a economia. Então, na cabeça deles, toca abrir escolas, porque alguém precisa ganhar dinheiro, mesmo que eu, você ou o amor da sua vida tenhamos que morrer para isso.
A greve dos servidores da Educação de Araraquara é pela vida.
E não venha comparar os profissionais da educação com os da saúde. A diferença começa no treinamento que cada um recebe desde os estudos iniciais da sua função. Os profissionais da saúde, de técnicos a médicos, são orientados e treinados durante toda sua formação a se protegerem de contaminações. Os da Educação nunca tiveram essa aula.
Aliás, os profissionais da Educação estão sendo obrigados a irem trabalhar presencialmente sem qualquer treinamento sobre EPI, sobre situações que podem ser perigosas em termos de contágio nas escolas. Nem EPI correto em quantidade suficiente tem.
Por tudo isso, por não aceitar trabalhar em condições sanitárias precárias, por não aceitar correr risco de morte ao ir trabalhar, por não ter segurança no local de trabalho, por saber que a Prefeitura pode resolver o problema das famílias de outra forma, os servidores municipais da Educação de Araraquara estão em greve para preservar vidas, baseados na ciência.
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